Norman é um garoto introvertido com um dom. Não é um Cole Sear, de “O Sexto Sentido”, mas também consegue ver aqueles que já morreram. Uma lenda em sua cidade conta a história de uma bruxa e mortos vivos, almas que não conseguiram passar, e é com essas tramas já vistas e revistas no cinema que “ParaNorman” brinca. O filme é uma paródia que caminha entre o belo e o escracho, o tom mais dramático e a ação desenfreada contra os tais zumbis. Acha um ponto certo e segue nele sem evoluir para a diversão desprovida de inteligência. É a grata surpresa entre as animações de 2012.
E o que torna Norman e seus companheiros ainda mais fiéis ao contexto é a técnica Stop Motion Commotion. Um filme com “massinhas” em que o computador só aprimora a criação detalhista do homem. Nesse caso os diretores Sam Fell e Chris Butler, os mesmos de “Por Água Abaixo” e “Despereaux”, e o estúdio por trás de “Coraline”, um dos grandes filmes de 2009. A união não poderia entregar uma obra mais fiel à nova geração ao brincar com as lendas urbanas, o bullying na escola, as famílias líquidas (corriqueiras por natureza) do século 21 e os estereótipos escolares (o gordinho, o musculoso e a gostosona). E os zumbis tão em voga depois do estrondoso sucesso de “Walking Dead”.
“ParaNorman” não escapa em nenhum momento das mãos do protagonista, esse dócil menino que assiste televisão com a avó morta. Sua família (um pai barraqueiro, uma irmã cheerleader e a mãe problemática) pouco o entende e na escola a sua fama com o além é vista como “freak”, espécie de esquisitice padrão de um garoto média-idade. Seus únicos amigos são um gordinho que assiste ao vídeo de ginástica da mãe e uma expert em tudo. E a lenda começa a tomar forma na cidade quando o tio de Norman, um hipocondríaco que esqueceu de morrer, passa ao sobrinho a tarefa de conter a bruxa.
O clima oitentão da história é um barato: ação trash, máquinas de salgadinhos, armários escolares, música acelerada letreiros iluminados e visual sujo, hippie e largado. As piadas também giram em torno desse clímax mais saudosista que o talhado para as novas gerações, apesar do filme nunca perder o melhor das situações para explorar essa suposta ausência de cérebro contaminada nos personagens que o cercam.
“ParaNorman” não tem a qualidade visual dos filmes da Pixar ou da Dreamworks, mas sugere o crescimento de um filão que lembra as brincadeiras de massinha, carrinhos e casas de madeira das primeiras gerações de brinquedos. É pura diversão em tela e os caras e bocas (que são filmados com a paciência que não temos) ostentam essa preocupação da equipe com a qualidade visual do longa.
Em um mercado cada vez mais escasso de produções que fujam da maioria, o cinema de Hollywood por vezes surpreende com o que sabe fazer de melhor: fomentar a imaginação, infantil ou adulta. “Wallace & Gromit”, “Piratas Pirados” e o próprio “Coraline” não me deixam mentir. Nota alta para o cinema de massinhas, que já começa a ganhar mais fãs e técnicas mais apuradas. E o mais importante: histórias novas e nenhuma sequência.
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