Na primeira cena de “Os candidatos”, o deputado Cam Brady, vivido por Will Ferrell, declara aos eleitores presentes na escola que visitava: “Professores são a espinha dorsal da América”. Na tomada seguinte, em um hospital, o pilantra dispara, “Médicos são a espinha dorsal da América”. Corta para uma base militar, “Veteranos são a espinha...”, passa para um celeiro, “fazendeiros”; em um shopping, “mulheres”. A piada era boa e bem dirigida. Só que de forma previsível, o personagem começa a mandar coisas como “funcionários de locadoras de bairro são a espinha...”, e, em um parque de diversões, acaba com “filipinos que operam rodas-gigantes...”.
Logo de início já se pode ter ideia do que é “Os candidatos”, que estreia nesta sexta-feira, 19 de outubro. Dirigido por Jay Roach, responsável por produções como “Entrando numa fria maior ainda” e três títulos da série “Austin Powers”, o filme é uma sucessão de boa situações, bem divertidas, mas que acabam se perdendo pelo exagero, por não saber a hora de parar. Vários momentos engraçados são estragados por, em busca de alongar o período da piada, o roteiro acabar caindo no previsível, deixando um gosto amargo ao fim da risada.
Na história, Brady busca o seu quinto mandato consecutivo, porém um acidente o leva a deixar uma mensagem de forte conteúdo sexual — originalmente direcionada à sua amante — na caixa eletrônica de uma família religiosa. Sua popularidade cai rapidamente, apesar de ele não ser esperto o suficiente para entender. Assim, seus financiadores buscam um novo candidato, fácil de ser manipulado, para disputar a cadeira: Marty Huggins, um bobão interpretado por Zach Galifianakis. Dessa forma é dado início a uma campanha bizarra, em que os dois adversários passam a utilizar os piores expedientes em busca dos poucos votos da cidade.
O roteiro de “Os candidatos”, como dito anteriormente, tem vários defeitos. Porém, têm qualidades que chamam a atenção. Intencionalmente lançado às vésperas da eleição presidencial americana (e também do segundo turno das municipais brasileiras), o filme tem sucesso em tirar sarro do processo eleitoral dos EUA. São claros os deboches em cima dos publicitários de campanha, que acabam tendo ideias que consideram geniais, mas que na verdade são tiros no pé. A produção também brinca com os fatores que influenciam o desempenho nas pesquisas, que acabam derrubando especialistas. Por exemplo, Huggins cresce nas sondagens ao dar uma flechada na perna de seu oponente, enquanto Brady também ganha pontos ao filmar uma relação sexual com a esposa do seu adversário, em retaliação. Essa, inclusive, é uma das melhores cenas do filme, perfeita para Ferrell, que fica bem à vontade, é claro, quando tem em mãos uma boa piada de mau gosto.
Como era de se esperar, o ponto alto do filme é o entrosamento da dupla de protagonistas. Apesar de interpretar o mesmo papel de sempre, Farrell e Galifianakis são figuras engraçadas mesmo paradas. O primeiro abusa das caras e bocas, e uma divertida brincadeira com a vaidade do candidatos, que em boa parte além de se achar genial, pensa que também é gato. O segundo também tira partido do seu tipo físico para fazer um homem infantil e bobo, que durante sua vida foi vítima de intermináveis gozações, quase todas justificadas. As cenas em que atuam juntos são disparadas as melhores da produção, e não sofrem com o problema do exagero, já citado.
No fim das contas, “Os candidatos” tira proveito do seu elenco e de bons momentos e sacadas. Mesmo com vários outros defeitos, como a subutilização de Dan Aykroyd e John Lithgow, a tocada sempre no mesmo ritmo e um desfecho piegas, diverte seu público que, ao entrar na sala de cinema, será bombardeado pelas atuações afetadas e as piadas simples e quase sempre sujas.
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