sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Até que a $orte nos Separe não dá casamento


DivulgaçãoTino e Jane, o casal problema do filme
E se “Zorra Total” virasse filme? Pior, e se um bloco do programa virasse um longa-metragem? Ou ainda mais danoso. E se um dos personagens mais caricatos da “comédia” global ganhasse um filme solo com um roteiro preparado para o seu colo? Eis “Até que a $orte nos Separe”, mais uma besteira do gênero “A Melhor Comédia do Ano”. É o filme do Leandro Hassum, que acostumou brasileiros de todas as idades a rirem (ou não) todos os domingos no seriado “Os Caras de Pau”, que protagoniza ao lado do magricela Marcius Melhem. Também é um projeto que se enquadra um pouco nesse ideal bom moço de Brasil, onde qualquer ironia ou sexualidade é rejeitada. Só não dá casamento.
A premissa do filme é bem simples. Tino (Hassum) e Jane (Danielle Winits) vivem com as contas apertadas até que uma aposta na loteria esportiva dá certo e o casal engorda a conta bancária em R$ 100 milhões. Passam-se 15 anos desde o ocorrido e a fortuna se esvai após uma série de gastos descontrolados. Só que Jane até então não sabe da proeza dos dois e vive na bonança enquanto o maridão se enquadra nas leis do banco para evitar falência.
DivulgaçãoDani Winits é a grande atração da comédia
Tudo, porém, é montado naquele esquema simplório dos roteiros das comédias nacionais. Há um prólogo estranhíssimo, o auge dos gastos e a aventura com os amigos até o drama da queda e do apelo amoroso. O desfecho é óbvio demais, assim como a maior parte das analogias.
Leandro Hassum é um ator talentoso da nova geração e já emplacou grandes produções no teatro, mas é refém de textos bem fracos na televisão e agora no cinema. Seu personagem é seu ego na vida real, um comediante exagerado, apelativo e perdido em inúmeras caras e bocas que esgotam o espectador. Dani Winits, por outro lado, caiu como uma luva no papel da Jane perua e mãe desleixada. A química entre os protagonistas também funciona, mas as piadas que incorrem são sempre fracas demais.
DivulgaçãoKiko Mascarenhas é um dos atores de pouco renome na produção
O elenco secundário traz poucos nomes conhecidos como Kiko Mascarenhas e Rite Êlmor, mas a grande aposta fica por conta de Ailton Graça, que interpreta um amigo das antigas do milionário que a certa altura resolve ajudar Tino interpretando um designer gay.
São nessas invenções no roteiro que o filme se perde completamente, em humor e ritmo. No começo, a diversão se dá com o cotidiano maluco do casal e sua relação com esse mundo fechado. Mas é totalmente equivocada a interpretação dos problemas por parte de Tino e as amarras do roteiro - um novo filho, um assalto bizarro com um personagem que some sem mais nem menos ou a necessidade desse designer de interiores. Como são totalmente angustiantes a repetição das piadas (reparem, por duas vezes uma situação se repete sem dar ou tirar interpretação) e a banalidade amorosa que cerca a família-título e seus vizinhos, que à sua forma também enfrentam essa “Sorte que nos Separe”.
DivulgaçãoCompras e mais compras...
O diretor Roberto Santucci, do belo “Bellini e a Esfinge”, já se mostrou incomodado com o filme e a impressão que passa é que, apesar do roteiro pensar um pouco mais a construção de situações cômicas, a ilusão de comédia em qualquer situação se mostra inerente ao fracasso cultural do longa.
Há, porém, um grande mérito. A história é baseada em “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos”, sucesso na literatura especializada do economista Gustavo Cerbasi, e mostra que o cinema brasileiro também pode brincar com a metalinguagem e com a metáfora da própria condição humana. Só faltaram dois dedos de prosa mais trabalhada. E um Hassum menos exagerado. A sorte pode ser uma grande bilheteria ou uma vaga no catálogo de “Temperatura Máxima”. Se o filme encontrar essa sorte.

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